A praga que se abateu sobre nós

Vivemos em nosso país um delicado momento da saúde pública. Há quase três décadas a dengue foi reintroduzida no Brasil, mas ao longo desse período, nada de inovador foi feito para combater o mosquito transmissor, Aedes aegypti. A manutenção das mesmas estratégias de enfrentamento resultou na acomodação da sociedade que, vendo prevalecer a ineficiência das ações tradicionais, resignada, passou a conviver com ciclos anuais de epidemias, iniciados na estação chuvosa e atenuados na estação seca. A cada início do verão, o mesmo roteiro é acionado. As repetitivas campanhas de combate ao mosquito, centradas em eliminar água parada de vasos de plantas, latas e pneus abandonados, já não surtem efeito. Burocratizamos o mosquito!

Para agravar o cenário sanitário, os municípios, responsáveis pelas ações de combate direto ao mosquito, já não suportam mais esse ônus, seja por absoluta falta de recursos, seja pelo atingimento dos limites de pessoal. O resultado dessa perversa conjunção de fatores é a redução do número de profissionais de campo necessários para as estratégias de combate. Mas a situação não para por aqui. Ao longo de 2015, em plena epidemia do primeiro semestre, dificuldades de importação dificultaram a disponibilização da substância larvicida necessária para a ação dos agentes. Todos esses elementos em conjunto vêm impedindo que o país reduza a incidência dessa praga.

Já não bastasse a dengue, assistimos no último ano a introdução no território brasileiro dos vírus da chikungunya e zika, transmitidos pelo mesmo mosquito. Essas duas novas doenças, até então consideradas benignas, mostraram o seu lado maligno através de artrites de longa duração, da Síndrome de Guillain-Barré e da mais perversa de todas, a microcefalia. Diante da ameaça que esse novo padrão de viroses representa, o Ministério da Saúde, acertadamente, declarou Emergência em Saúde Publica de importância Nacional.

Considerando a necessidade de estabelecer uma coordenação central de resposta rápida diante da situação epidemiológica atual, criamos na Bahia o COES – Centro de Operações de Emergências em Saúde. Participarão desse centro diversos níveis da Secretaria da Saúde, inclusive o próprio secretário, que o coordenará. Contaremos ainda com representantes de outras secretarias do governo, conselho de secretários municipais, União dos Municípios, além de sociedades médicas de especialidades. Com o apoio do CDC dos EUA, estruturamos um plano estadual de combate, sob a coordenação do infectologista e subsecretário de saúde Roberto Badaró. Com os municípios, criamos incentivos financeiros para apoiar os agentes de endemias.

Desenvolvemos uma tecnologia pioneira de Aedes transgênico, cujos testes de campo reduziram em mais de 80% a população de mosquitos. Estamos investindo em tecnologia, com aplicativos de celulares para uso da população, que poderá registrar e denunciar os locais de infestação. Da Coréia trouxemos para a Bahiafarma a produção de testes rápidos para dengue, chikungunya e, em breve, zika. De Portugal, estamos importando uma tecnologia de nanopartículas para aplicar repelentes nas casas e roupas. Com a Secretaria de Educação educaremos as futuras gerações para enfrentarem essas doenças.

Louva-se a atual posição do Ministério da Saúde de reconhecer o mosquito Aedes aegypti como a principal ameaça à saúde pública nacional e desencadear emergencialmente um plano de enfrentamento agressivo. Somente com vontade política e engajamento da sociedade será possível enfrentar essa terrível praga que se abateu sobre todos nós.

Fábio Vilas-Boas

Secretário da Saúde do Estado da Bahia
(artigo publicado no Jornal A Tarde em 11 de dezembro de 2015)

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